(Viii) já em Angola, havia publicado, em 1973, o caderno de contos africanos «O Jangadeiro», dos quais foram apreendidos 300 exemplares pela PIDE/DGS;
(ix) é também licenciado em Antropologia Cultural e Social e mestre em Ciências Antropológicas;
(x) foi professor na Universidade Moderna;
- o Eduardo Magalhães Ribeiro (nosso coeditor) (ex-fur mil OE, CCS / BCaç 4612/74, Cumeré, Mansoa e Brá; seguiu para a Guiné já depois do 25 de Abril, tendo regressado na última viagem, no T/T Uíge, em 15/10/74; de alcunha, "o pira de Mansoa);
- o Abílio Magro, ex-fur mil amanuense, Chefia do Serviço de Justiça e Disciplina (CSJD), QG/CTIG, março 1973/ setembro 1974);
- o Albano Mendes de Matos, entáo tenente SGE, GA/ e QG/CTIG - Secçáo de Milícias e Chefe de Contabilidade, 1972/74, hoje ren.cor ref; natural do Fundão, vive em Oeiras,.
Também não podemos esquecer o valioso contributo do nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande (nº 530) e filho do cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74) (que deixou Bissau, às 2h30 do dia 14 de outubro de 1974, tendo viajado nos TAM com o brigadeiro graduado Carlos Fabião e restantes militares
A qualquer deles, incluindo o Manuel Belexa Ferraz, se aplica a expressão " o último dos moicanos" (leia-se: soldados do império): o Abílio Mgro, rgressado a casa em fins de setembro, nos TAM; o Albano Mendes Matos, a 14, também de de avião; e o Eduardo, a 15, no T/T Uíge.
O texto que republicamos a seguir, agora nesta sérien (*), é um dos textos mais pungentes que eu já li sobre sobre a saída das NT. Escrito com rigor jornalístico, mas também grande sensibilidade, ou não fora o autor um escritor de talento
Foi um momento emocionante o meu último dia na Guiné-Bissau, em 13 de outubro de 1974.
O pessoal que restava do meu serviço, Contabilidade, saiu para o aeroporto de Bissalanca, logo pela manhã, como quase todos os militares que ainda lá se encontravam. Levaram rações de combate para as refeições. Creio que com receio de algum acontecimento.
As famílias avisaram esses ex-soldados para se deslocarem a Bissau, para exigirem o pagamento. Eu tinha pedido à Emissora da Guiné para avisar todas as pessoas, militares e civis, e as empresas que tivessem a receber alguma coisa do Exército Português, que o comunicassem até, creio, ao dia 10 de outubro [de 1974].
Interessante foi o caso de uma Casa de Instrumentos Musicais pedir o pagamento de 6 clarins que tinham sido fornecidos ao Comando Militar da Guiné... em 1940.
Disse aos ex-soldados que já não havia dinheiro e o tesoureiro já se encontrava em Portugal.
Em novembro/dezembro [de 1974] enviei o dinheiro devido ao 6 militares, não tendo conhecimento se o receberam.
Quando, na estrada, me preparava para caminhar, surgiu um jipe com um militar do PAIGC, mulato, de meia-idade, que me disse:
Contei-lhe o sucedido e logo se prontificou levar-me à Amura, mas que lhe ensinasse o caminho, porque só tinha ido a Bissau, durante a guerrilha, uma vez, de noite, ao cinema na UDIB (União Desportiva Internacional de Bissau).
Conduziu-me no jipe, não à Amura, mas a um restaurante de um primo do meu condutor, português a quem o Governo da Guiné pediu para não sair, porque era o chefe da fábrica de descasque de arroz, situada numa ilhota, no rio Geba, em frente de Bissau [, o ilhéu do Rei ].
Lá encontrei o meu condutor com uma grande bebedeira, não podendo conduzir o jipe. Disse-lhe que não se embebedasse mais, porque às 11 horas da noite tinha que estar junto do jipe, em frente do restaurante do primo, para irmos para o aeroporto.
Almocei e jantei na casa do referido locutor [o Silvério Dias]. e andei pelas ruas e pelos bares de Bissau. Só encontrava guineenses que me cumprimentavam e desejavam boa viagem e muita sorte.
Dei por mim a olhar para as memórias portuguesas que ficavam por aquelas paragens: edifícios, estátuas, toponímia. E a recordar a história que me tinham ensinado, com navegadores, guerreiros, missionários e pacificadores. Imaginei os primeiros portugueses a chegar àquelas terras. E eu, agora, o último a passear pelas ruas de Bissau, no fim do Império.
Estavam lá mais portugueses, o Governador e alguns militares, mas não saíam à rua. Às 23 horas [do dia 13 de outubro de 1974, domingo ]. , foram sob escolta para o aeroporto.
Um pouco depois das 11 horas da noite, dirigi-me para o jipe. O condutor estava melhor da bebedeira. Com ele estava o primo. Alguns negros param a olhar para nós. Aproximaram-se. O jipe arrancou. Os guineenses ficaram a acenar, de braços levantados. Descemos pela avenida principal, subimos pelo lado do campo de futebol.
Sentia uma sensação estranha. Já na estrada do aeroporto, olhei para trás. Duas lágrimas saltaram-me dos olhos, recordando o sangue português derramado naquelas paragens. Era estrangeiro numa nova nação.
Já perto do aeroporto, o condutor perguntou-me:
− Meu tenente, onde deixo o jipe?
− Atira-o para uma barreira!
Parámos à entrada do parque do aeroporto. Desci com a pequena mala. O condutor colocou uma sacola no chão, subiu para o jipe e conduziu-o até uma pequena ladeira, ao lado da estrada, um pouco antes do aeroporto, para onde o encaminhou com um pequeno empurrão.
No aeroporto, para entrarem no último avião da Guiné, estavam o Governador, o Comandante Militar, alguns militares coadjuvantes, oficiais, sargentos e meia dúzia de soldados.
Para apresentarem cumprimentos de despedida, chegaram alguns chefes militares do Exército do PAIGC e o Presidente da Câmara Municipal de Bissau.
Era o fim da colónia ou província portuguesa da Guiné, já independente desde o mês de Agosto.
Albano Mendes de Matos
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Notas do editor LG:
(*) Último poste da série > 2 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27277: Memórias dos últimos soldados do império (6): os "últimos moicanos" - Parte III: a viagem Bissau-Lisboa, a bordo do T/T Uíge, em 15 de outubro de 1974 (Eduardo Magalhães Ribeiro / Luís Graça)